Além da missão de preservar a ordem pública, os policiais militares do Estado do Rio de Janeiro cumprem também o papel de cidadãos desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
A observação é a linha condutora de um bloco de três reportagens escritas pelo Major Raphael Batista, intitulada “Um olhar para a PMERJ em meio à pandemia do Covid-19”. Chefe da Assessoria de Imprensa da Coordenadoria de Comunicação Social (CComSoc) da Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro, o Major Raphael está no último ano do Curso de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Com a promulgação do primeiro decreto estadual, no dia 13 de março de 2020, regulando o isolamento social, a Corporação vem trabalhando na conscientização da população para reduzir ao máximo a contaminação pelo Covid-19. Ao longo da pandemia, que ainda não está sob controle, a quarentena se estendeu e novos decretos foram editados.

POLICIAIS DAS UPPs DISTRIBUÍRAM MAIS DE 20 TONELADAS A FAMÍLIAS CARENTES DAS COMUNIDADES CARIOCAS

O empenho dos policiais militares pode ser percebido, entre outras iniciativas, na ação da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP). Foram arrecadadas mais de 20 toneladas de alimentos para distribuir nas comunidades onde as unidades atuam. Nessas localidades, muitas famílias, já vulneráveis, perderam renda durante o isolamento social.
A CPP usou as redes sociais para iniciar a campanha de arrecadação em 13 de abril e disponibilizou os pontos de arrecadação que ficavam em viaturas próximas às bases das UPPs e na sede da CPP, em Bonsucesso. A campanha arrecadou alimentos não perecíveis, produtos de limpeza e de higiene. Em apenas 15 dias, a iniciativa humanitária dos policiais militares atendeu mais de 1.800 famílias de diversas comunidades do Rio de Janeiro.
Chefe de Articulação Comunitária da CPP, o Major Nogueira participou da organização da campanha de arrecadação. O primeiro desafio foi organizar logisticamente para otimizar o armazenamento e a distribuição das doações. As lideranças comunitárias foram fundamentais para tornar essa corrente de doação possível, pois concentraram seus esforços junto com os comandantes de UPPs e trouxeram parceiros que ajudaram de forma decisiva para o êxito da campanha.
A ação humanitária aconteceu em 29 comunidades onde atuam os policiais militares das UPPs: Santa Marta, Providência, Prazeres, Babilônia, Pavão-Pavãozinho, Tabajaras, Vidigal, Rocinha, São João, Jacaré, Lins, Turano, Borel, Formiga, Andaraí, Salgueiro, Macacos, Mangueira, Barreira do Vasco, Fazendinha, Nova Brasília, Alemão, Fé e Sereno, Chatuba, Parque Proletário, Vila Cruzeiro, Adeus, Arará Mandela e Manguinhos.
Segundo o Major Nogueira, devido ao período de pandemia foi necessário realizar uma reunião por videoconferência, uma das novidades dos tempos de isolamento social, com os Comandantes das UPPs. Durante a reunião virtual, o Major reforçou a ideia da importância de a CPP realizar uma campanha de arrecadação de alimentos. Além da missão constitucional de atuar na área de segurança pública, a PM é uma das instituições garantidoras de direitos, muito próxima da sociedade e, por isso, poderia contribuir muito nesse período de crise sanitária, social e econômica.
Ao lado do empenho dos policiais militares, a ação se tornou viável graças ao engajamento da sociedade como um todo. A CPP, através de seu Coordenador, o Coronel Luiz Octávio, idealizou e organizou a iniciativa criando um ambiente favorável e confiável para quem pudesse e quisesse doar. O Comandante Geral da Corporação, Rogério Figueiredo de Lacerda, chancelou a ação.
– Para quem doa é fundamental saber que as doações chegarão às pessoas que estão necessitando. Os líderes comunitários foram fundamentais para dar este retorno à CPP – relata a Major Bianca Neves, Coordenadora de Projetos da CPP.
A palavra de um líder comunitário tecendo elogios a ações da PMERJ passou a ser mais frequente após a implantação do programa das UPPs em comunidades do Rio de Janeiro. Em 2008, a comunidade Dona Marta seria a primeira a receber uma UPP. Em novembro, o programa completará doze anos de existência. Durante os anos de 2018 e 2019, o projeto sofreu um realinhamento e, das 38 unidades que haviam sido instaladas, 29 UPPs se mantêm em plena atividade.
Caio Lucas é vice-presidente da Associação de Moradores da Comunidade da Matriz, no bairro do Engenho Novo, agradeceu a Polícia Militar por, justamente no Dia do Trabalhador (1º de maio), ter realizado a distribuição de cestas básicas. Segundo o líder comunitário, 99 % dos moradores da comunidade da Matriz são trabalhadores e estão precisando de ajuda nesse momento de pandemia. Ele falou em nome dos moradores do complexo de favelas do Engenho Novo, agradecendo encarecidamente por esta ação da PM e que as doações iriam ajudar muitas famílias.
A campanha, em plena pandemia, teve que seguir alguns protocolos para minimizar o risco de contaminação por coronavírus de policiais e colaboradores, tanto na arrecadação quanto na distribuição. Os comandantes de UPPs tiveram que arregaçar as mangas e trabalhar duro para transformar uma “ideia”, em cestas básicas, que tirariam diversas famílias da situação de extrema dificuldade.
O comandante da UPP Providência, Major Vinícius Oliveira, liderou uma das bases campeãs em arrecadação de alimentos, conseguindo distribuir, do início da campanha até os dez primeiros dias de junho, mais de 300 cestas. Ele conta que em sua UPP o ponto focal para as arrecadações foram os policiais. Assim, incentivou que os militares chamassem amigos, familiares, empresários, com o intuito de fomentar a campanha de arrecadação.
O Major Vinícius contou que os alimentos foram armazenados na sede da UPP Providência e lá os policiais militares higienizaram, separaram e ensacaram os alimentos. Além da organização para acondicionar as cestas de não perecíveis e as cestas de materiais de limpeza, também foi necessário um planejamento para a entrega das doações. De acordo com o comandante da UPP, as famílias que estavam cadastradas, por conta dos projetos desenvolvidos na comunidade, compareciam em grupos de dez pessoas, a cada uma hora cheia durante os dias de distribuição, evitando assim aglomeração.
O Major Marcelo Alves, comandante da UPP Rocinha, foi para campo, liderando um grupo de policiais que conseguiu reunir alimentos, materiais de limpeza e higiene em volume suficiente para ajudar aproximadamente 150 famílias. O Major Marcelo afirmou que a colaboração de pessoas que acreditam no trabalho da PM fez toda diferença nesse momento crítico.
– Faltam alimentos na mesa de muitas famílias e poder levar uma palavra de esperança, junto com alimentos e produtos de limpeza, ameniza o sofrimento de gente que trabalha muito, mas que momentaneamente está em quarentena – observa o Major Marcelo.

POLICIAIS DA PATRULHA MARIA DA PENHA AJUDAM VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Outra ação de destaque foi capitaneada pela Coordenadoria de Assuntos Estratégicos (CAEs). O Escritório de Programas de Prevenção (EPP), um dos braços da CAEs, abriga o Programa Patrulha Maria da Penha – Guardiões da Vida. Trata-se de uma iniciativa de sucesso lançada em agosto de 2019, que capacitou e equipou policiais militares para enfrentar e reverter os crimes de violência contra a mulher.
Instaladas em todos os batalhões operacionais do estado e em três UPPs, as equipes do PMP, entre outras missões, acompanham o cumprimento das medidas protetivas concedidas pela Justiça para salvaguardar mulheres vítimas de violência. E o cadastramento dessas mulheres incluídas no programa foi fundamental para prestar essa ajuda adicional no período de pandemia.
O programa selecionou, através do cadastro de mulheres assistidas, todas que poderiam estar em situação de vulnerabilidade socioeconômica, agravada ainda mais pela pandemia por coronavírus. Uma parceria com o grupo de voluntários denominado “União Rio” possibilitou que fossem doadas 326 cestas básicas e kits de limpeza para essas mulheres.
A distribuição das cestas começou no dia 28 de abril. Coordenador da CAEs, o Coronel Max Willian lembra que nesse momento é preciso aproveitar a capilaridade que a PM tem na sociedade para fazer algo além do convencional, demonstrar nossa capacidade de agir ante a uma crise humanitária.
– A Corporação não se aproximou da sociedade por conta da pandemia. A PM está lá todos os dias e sabe como um gesto de doação como este pode gerar frutos positivos para a consolidação da legitimidade institucional – afirma o Coronel Willian.
Procuradas, mulheres assistidas pelo programa e que receberam as doações deram alguns depoimentos, sob a condição de preservar suas identidades, por questões de segurança e privacidade. O primeiro depoimento foi de uma assistida da área do 16º BPM (Olaria). Ela fez questão de citar o nome dos policiais que estão em contato direto por conta do programa.
– Estou bastante abalada agora, mas extremamente grata. As mulheres precisam saber que podem contar com uma Polícia Militar preparada e que passa para a vítima uma sensação de apoio, proteção, cumplicidade que são fundamentais e raros. Gostaria de agradecer ao Cabo Polydoro e ao Soldado Mescolim pela atenção e presteza e dizer que a cesta básica foi uma providência divina, um carinho incrível. Deus está salvando vidas através de vocês – disse ela emocionada.
Igualmente emocionante e gratificante, segue o depoimento de uma assistida de Laje do Muriaé, município atendido por policiais do 29º BPM (Itaperuna);
– Gostaria de agradecer a cesta básica que eu ganhei da Patrulha Maria da Penha. Estou sendo assistida há quatro meses, graças a Deus. O trabalho de vocês é fantástico, melhora a autoestima, a gente tem certeza de que não está sozinha nessa luta, contra o machismo, contra a violência. Isso é uma coisa que não pode parar, milhares de mulheres precisam de ajuda. Essa cesta básica veio num momento muito importante, sou mãe solteira e estou desempregada, acabei não sendo beneficiada pelo auxílio emergencial e essa doação amenizou minha angústia.
De Campos dos Goytacazes, área do 8º BPM, mais uma mulher assistida pelo programa transmite sua mensagem de agradecimento:
– Queria agradecer a equipe da Patrulha Maria da Penha pela cesta básica que me trouxeram, veio numa boa hora, realmente eu estava sem nada dentro de casa para meus filhos comerem. Deus enviou esses anjos, que são vocês.
Subchefe do EPP da CAES, responsável pelo programa, a Tenente-Coronel Cláudia Moraes disse que, enquanto não passar a pandemia, a Patrulha Maria da Penha continuará recolhendo donativos. Lembrou ainda que, em junho, fora as 326 cestas conseguidas anteriormente, existe uma previsão para distribuição de mais de 500 cestas, sendo 62 conseguidas com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, 20 com a Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro e outras 450 com o grupo que já havia doado anteriormente as 326 cestas a “ União Rio.”

POLICIAIS PRESTAM HOMENAGEM EMOCIONANTE AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM FRENTE A HOSPITAIS

“Quando o corpo não aguenta o moral é o que sustenta”. Muito conhecido entre os policiais do Rio de Janeiro que enfrentam situações adversas diariamente nas ruas, o jargão militar encaixa-se perfeitamente ao momento vivido pelos profissionais de saúde que estão trabalhando até a exaustão física e mental para dar conta da demanda de pacientes contaminados pelo Covid-19.
Em situações de extremo cansaço físico e psicológico, os policiais militares precisam se apegar a um forte sentimento de missão para dar conta do recado. E esse sentimento está diretamente relacionado ao fato de que há muita gente precisando do serviço policial.
Foi pensando nisso que o Secretário de Estado de Polícia Militar, Comandante-Geral Rogério Figueiredo de Lacerda, tomou a iniciativa de prestar uma homenagem aos profissionais de saúde. Foi uma manifestação de apoio psicológico para retribuir todo o carinho e a atenção das equipes de saúde à população do Rio. O ato reforçou a ideia de que tem muita gente precisando do serviço dos profissionais da área e que a honraria prestada a mais alta autoridade civil do estado do Rio está sendo dedicada aos nossos heróis da saúde.
Policiais militares, em viaturas iluminadas pelas luzes vermelhas dos giroscópios, compareceram na frente de 17 hospitais espalhados pelo estado na noite de 28 de março(sábado). Em silêncio, num sinal de profundo respeito, prestaram de forma uníssona uma continência coletiva, criando uma corrente nas redes sociais para demonstrar gratidão aos profissionais da saúde que se dedicam a cuidar das pessoas que estão contaminadas pelo Covid-19.
Um agradecimento foi lido, simultaneamente, por um policial em cada um dos 17 hospitais. Na Ilha do Governador, em frente ao Hospital Municipal Evandro Freire, essas palavras foram ditas pelo Tenente Azevedo do 17º BPM (Ilha do Governador) que fez questão de frisar o heroísmo de quem estava ali, naquele hospital, salvando vidas e se arriscando para cumprir seus respectivos juramentos profissionais.
A médica Renata Resende se emocionou. Falou em nome de toda a equipe do Hospital Evandro Freire que estava orgulhosa em receber uma homenagem de quem normalmente está na linha de frente nas batalhas do dia a dia e muitas vezes arriscando a própria vida. Ela disse que desta vez são os profissionais que trabalham na área da saúde que estão cuidando de quem cuida de toda a sociedade em diversas ocasiões, por isso a emoção de estar recebendo a homenagem.
Integrando também essa linha de frente nas ruas, orientando a população e atuando em ocorrências de infração de medida sanitária preventiva, foram muitos os policiais militares que se contaminaram em serviço. Em 17 de junho 506 policiais estavam afastados do serviço com sintomas correlacionados a Covid-19, número menor se compararmos os 1.999 de 17 de maio. O número de policiais militares recuperados da doença em 17 de junho chega a 6.129. Em 17 de maio esse número era de 3.268.
Lamentavelmente, 31 integrantes da Corporação perderam a batalha para o novo coronavírus até o dia 17 junho. Nessa data, um óbito ainda estava registrado como suspeito, aguardando resultado do teste. Em 17 de maio, o número era de 14 policiais falecidos por Covid-19 e outros sete óbitos aguardavam o resultado dos testes para confirmar a causa da morte.
Até 17 de junho, testaram positivo para o vírus 1.726 policiais militares, sendo que em 17 de maio havia 899 policiais contaminados. A Corporação tem aumentado o número de testes desde que se iniciou a pandemia.
Em uma postagem do twitter oficial da PMERJ, uma mensagem de esperança foi lançada em 29 de maio: “Nossos guerreiros não medem esforços para barrar a expansão do coronavírus. Durante a quarentena chegamos a ter 5,33 % do efetivo afastado, 2.378 policiais. Esse número vem caindo e hoje chegou a 2,18%. De 44.570 policiais, 972 estão se recuperando. Juntos, venceremos esta guerra.”

Por Major Raphael Batista, chefe da Assessoria de Imprensa da Coordenadoria de Comunicação Social da PMERJ e estudante de jornalismo do 7º período da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro..